quinta-feira, 7 de julho de 2016

...porque é cada detalhe maravilhoso...

Eu tava tão empolgada... tão empolgada...

eu gritava... cantava... sorria... todo dia... o dia inteiro...

meu bebê ia chegar logo... eu sentia... não tinha um perfil mega abrangente, mas também não era o mais restrito do mundo... faltava pouco... eu sentia... eu achava... eu era muito ingênua...

Artur também me parecia cada dia mais feliz... conversávamos toda semana... pensávamos em nomes... imaginávamos a carinha... era gostoso... eu queria compartilhar com todo mundo...

minhas amigas próximas já sabiam... nossos pais e irmãos também... mas eu queria mais... eu queria todo mundo sabendo... eu queria colocar uma faixa... anunciar num megafone...

o natal se aproximava e minha família sempre se junta nessa época... conversei com Artur e decidimos que seria uma boa hora pra anunciar... mesmo porque nosso filho ia chegar logo (de novo, como eu era ingênua) e eu não queria pegar todo mundo de surpresa...

natal... muito comida... todos meus 456 primos e tios... um clima de alegria e leveza...

- Errrr.... gente... presta atenção aqui... Artur quer dizer umas coisinhas...
(já tinha pedido pra ele falar porque eu tinha certeza que ia chorar)
- Oi... errrrrr... então... eu queria dizer que logo logo nossa família vai aumentar... eu e Érica vamos adotar um filho!

eu poderia ser a Clarice Lispector... ainda assim eu não saberia como colocar em palavras tudo o que aconteceu em seguida...

TODOS os meus 456 primos e tios se levantaram e foram abraçar a gente... todos... cada um veio até nós, nos beijos, nos abraçou e nos deu todo o apoio e carinho do mundo... eu nunca me senti tão acolhida... foi um chororô com sorrisos com agradecimento... ficamos até 3h da madrugada conversando sobre nossa decisão, o que nos motivou, como é o processo, qual nosso perfil... todo mundo tava muito feliz e empolgado com a idéia... eu chorei compulsivamente, não preciso nem dizer... mas o mais legal... Artur chorou... Artur!

foi tão bonito... foi tão bacana...

sem dúvida o segundo melhor Natal da minha vida, meu-filho-que-vai-chegar...

porque o primeiro vai ser com você aqui...


sábado, 30 de abril de 2016

...porque a vida é assim mesmo: dias bons e outros nem tanto...

Então tá...

resumo da ópera até o momento... Artur tava feliz.... eu tava feliz... os documentos tinham sido entregues...

qual seria o próximo passo?!

entrevista social!

eu já tinha lido quase tudo que tem disponível sobre adoção... sabia todos os passos... e já tinha ensaiado uma ou duas vezes durante o banho...
mas tinha que "treinar" o Artur, né?!

- Amor... e se ela te perguntar o porquê de você estar adotando!?
- Vou dizer que é porque você quer, ué?!
- Nããããããããão, amor... ela vai achar que você não quer... tem que dizer que pensamos juntos e decidimos...
- Tá...
- E se ela te perguntar como é nosso relacionamento!?
- Vou dizer que você é muito encrencada e que por isso a gente briga a beça...
- Amorrrrrrrrr!
- Hahahahahahaha... tá bem... vou dizer que é como um conto de fadas...

e assim foi... a noite toda ensaiando...

no dia seguinte coloquei uma roupa "de mãe" e fomos pro Fórum... eu tremia e suava como uma vara verde... tava muito, muito nervosa... nos blogs e livros as pessoas sempre diziam que eles puxavam ao máximo, que era tenso... eu já imaginava o pior cenário...

sentamos de frente pra porta da Assistente Social... a mesma porta onde eu ainda ficaria muitas e muitas vezes em frente... foram tantas horas ali que eu sei te dizer quantos frisos, arranhões e defeitos a porta tem... já tive sonhos com meu-filho-que-vai-chegar saindo por aquela porta...

enfim...

ela nos chamou...
disse que estava um pouco perdida porque era a primeira vez que fazia aquilo... (oi?!?!?!)... fez as perguntas de praxe (situação financeira, situação familiar, religião, casa, suporte...) e eu dando as perguntas mais formais que conseguia...
e Artur?! bom... ele foi ele... disse o que vinha a cabeça... soltava aquelas frases de qualquer jeito (ahhh, a gente briga muito mas faz as pazes rápido) e não me parecia nem um pouco desconcertado...

levantei me sentindo um cocô ambulante... pra mim tava tudo errado... me deram um assistente social novata que não me passou segurança nenhuma (apesar de ser muito educada e competente, vale ressaltar!) e Artur tinha sido a metralhadora ambulante de sempre...

ela vai detonar a gente... tenho certeza...

no final daquela semana ela ainda foi na nossa casa... infelizmente foi num dia em que estava de plantão é só Artur pô de recebê-la...

- Mas como foi, amor!??!?!??!
- Ahhh, ela entrou, viu tudo e foi embora... num deve ter durado nem 10 minutos...
- Mas ela falou alguma coisa?!?!??!
- Que a nossa casa é bonita...
- Mais nada?!?!?!?!
- Mais nada...

ferrou... pra mim já tinha acabado ali... passei 3 semanas mal... com raiva do mundo... "meu Deus, nadei nadei nadei e vou morrer na praia!?"

no final do mês voltei ao Fórum...

- Oi...
- Oi, Érica... que bom te ver! Já finalizei o relatório sobre vocês e já enviei ao Juiz... se ele der o aval, já tá tudo certo...
- Mas você acha que temos chances?!
- Claro!!! Vocês são ótimos... vai dar tudo certo...

saí dali, entrei no carro e chorei por 15 minutos...
tava tudo correndo bem... eu não podia nem acreditar!


meu Deus... eita montanha russa de emoções mais doida essa!!!!!!

sexta-feira, 29 de abril de 2016

...porque tem muita gente boa pelo caminho...

Depois da dica da Detinha, corri pruma conhecida minha que eu sabia ter tido uma filha por meio da adoção...

A. é aquelas pessoas fofas e delicadas, com quem você conversa por horas... sabia que ela me entenderia...

falei mais ou menos por telefone o que era e marcamos de nos encontrar... fui até sua casa e, em meio a lágrimas, abri meu coração... a verdade é que a esse altura do campeonato e já tava DOIDA pra ser mãe... quanto antes Artur topasse antes eu resolveria essa angústia...

ela achou a idéia do encontro de casais maravilhosa, mesmo porque Artur tinha muitas características parecidas com a do seu esposo na época da adoção...

a verdade é que eu tenho a impressão que quase nenhum homem acata uma idéia de adoção assim, num piscar de olhos... como eles também quase não tem a iniciativa de "vamos engravidar!"... pode ser meio preconceituoso, mas sei lá... por tudo que já vivi, ouvi e li, me parece que na maioria das vezes a mulher vai tocando o barco e, enquanto o bebê não chega, o cara não "se toca muito"...

então tá... foi combinado... quarta feira a tarde... as crianças da A. estariam fora... a gente se encontraria...

Artur já foi logo me dando aquele banho de água fria...
- Eu não vou falar nada... vou ficar só lá, ouvindo...
- Tá bem, amor... faça o que você se sentir confortável...
- Mas vê se não fica me pressionando... eu não quero falar nada...
- Tá bem, amor... vou tentar dar meu máximo...

chegamos... oi, oi... vamos entrando... e aí?! tudo bem!?
casualidades...

- Mas sabe, gente... eu sinto que o maior medo do Artur é a diferenciação, até mesmo não intencional, entre filhos biológicos e adotivos... não sei... acho que ele acha que não vai conseguir não fazê-lo...
- Ihhhhh, Artur... o meu esposo também tinha isso...
- Tinha mesmo... quando a nossa filha chegou eu fiquei tãããão nervoso de diferenciar que acabei dando mais atenção a adotiva que a biológico... inverti tudo...
- Pois é... a gente vai errando e acertando... no fim dá tudo certo...
- Exato... hoje não tem mais nada disso não... são minhas filhas e pronto... acabou!
- É novo pra gente como é novo pra elas...
- Isso... é um aprendizado...
- ...........

foi um papo tããããããããããão bom... não sei se A. e seu marido sabem... mas eles me salvaram naquela tarde... foram eles que deram o veredicto na cabeça do Artur... foi graças a eles e a estrutura familiar deles que meu marido viu que nossa família podia ser tão feliz e bacana como qualquer outra...

A. e marido...: à vocês meu eterno muito obrigada!

saímos de lá e Artur não parava de rir...

- Amor... vamos fazer isso... eu quero... vamos... vai ser muito bom!

pela primeira vez em muito dias a faísca ficou forte de novo...
a gente ia adotar...
iupiiiiiiiiiii!!!!!!!!!!!!

segunda-feira, 21 de março de 2016

...porque curiosidade é uma coisa normal (mas cansa!)...

Já perdi as contas de quantas vezes tive que me explicar...

entendo perfeitamente a curiosidade alheia, mesmo porque sou do tipo que lê site de fofoca... mas é que é um assunto meio não muito bem definido nem pra mim... ainda não tenho nenhum martelo batido sobre nada... como explicar pra outra pessoa!?

- Você chegou a fazer algum teste pra saber se são inférteis?!
não... e não sei se precisa... eu não quero adotar porque não posso gestar... eu não quero é gestar! pode ser que mude de idéia... pode ser que me arrependa e quando meus óvulos estiverem beeeeem velhinhos eu queira finalmente um filho da minha barriga... mas essa é uma decisão que eu estou tomando agora... e arcarei com as consequências dela da forma que for...

- Você nunca pensa como seria se engravidasse!?
o tempo todo... adoção é um processo tãããããããão difícil que a cada 2 semanas eu penso em jogar tudo pro alto e engravidar... porque aí eu sei que dali a 9 meses o baby vai tá nos meus braços e problema resolvido... mas quando eu penso nisso eu começo a pensar nas coisas que eu acho que podem acontecer... nas doenças reumatológicas que eu e Artur temos, na minha carga genética podrinha, na obesidade, morte morte morte... eu literalmente fico com dificuldade para respirar... sério mesmo... ofegante, sabe?! será que um filho vale a pena em troca da minha sanidade mental!??!?!?!??!?!?!? eu acho que não...

- Você é tão nova, pode mudar de idéia...
sim... posso...
aí veremos, né?!
não me dê mais um motivo pra ansiedade, por favor!

- Você não pensa como seria lindo um filho com a sua carinha ou com o jeitinho do Artur?!
não... não penso...
penso que um filho vai fazer todo esse amor que tenho dentro de mim transbordar... independente da cara e/ou maneiras dele...

- Você não acha que vai sofrer muito preconceito?!
acho... mas estou procurando me preparar para isso da melhor forma... além do mais, preconceito é um defeito do outro... não vou deixar minha vida girar e torno disso... acredito que gente bacana melhora o mundo e vou focar nisso...

- Você não tem medo de quando ele crescer se virar contra você?!
não...
você não tem medo de ter um pensamento tão babaca assim?!

- Você é meio grossa, né?!
sou...
foda-se!

quarta-feira, 16 de março de 2016

...porque nem todo anjo tem asas...

Aqui, nessa altura do campeonato, preciso que vocês saibam que eu converso muito com meu filho-que-vai-chegar... se eu vejo alguma coisa bacana eu penso como mostraria pra ele... se sei de uma história já me vejo contando pra ele... enfim... ele ou ela (ou eles!) é um serzinho abstrato mas que já faz parte da minha vida... aliás, minha vida já tá pronta, só esperando ele ou ela ou eles... então não repara se de vez em quando eu ter um mini-diálogo com ele por aqui... eu e meu filho-que-vai-chegar já somos muito próximos... ;)

então...

uma vez, num dos zilhões de livros sobre adoção que eu li, a adotante disse que encontrou vários anjos na terra... e eu ficava pensando se eu também os teria... achava que seriam 2 ou 3 no máximo...achava tudo muito piegas mas ficava doida pra acontecer comigo...

e aconteceu!


após o "embate" com Artur eu estava muito insegura... na minha cabeça o processo de adoção correria rápido (ahhhh, como eu estava enganada) e eu precisava ter certeza que era isso mesmo que ele queria...

moramos numa cidade pequena... tudo aqui é era muito escasso em se tratando de adoção... e eu estava beeeeeeem perdida...

aí que recorri à uma amiga... e ela se tornou meu anjo sem asas número 1 - Detinha!

ah meu filho-que-vai-chegar... o caminho que a mamãe percorreu até encontrá-lo foi difícil... e só não foi pior porque encontrei esses anjos no meu caminho... faço questão de apresentá-lo a cada um deles... se prepare porque vamos dar a volta ao mundo pra conhecer anjo... ;)


a Detinha é aquele tipo de pessoa que você sorri só de encontrar... alta astral, espirituosa e excelente profissional... nos conhecemos porque por um período da vida ele deu aulas de espanhol... e foi uma professora querida por 4 anos...
mas sua formação é como assistente social... e trabalha há muito tempo com adoção...
boba que não sou, corri nela pedindo ajuda!

- Detinha, acode eu!

ela mais que prontamente me ajudou... além das inúmeras dicas, sugeriu que conversássemos com casais que já passaram pelo processo de adoção... para que o Artur saísse um pouco do subjetivo e visse como é a coisa real... me sugeriu alguns nomes de casais que ele conhecia e essa se tornou a minha missão do momento...

a Detinha ainda vai aparecer muitas vezes nessa história, tamanha é sua importância nesse processo todo...

mas por enquanto a deixemos só com essa participação especial... e já com meu agradecimento eterno...

sabe filho-que-vai-chegar, essa sua tia Detinha é danada de boa...

mas agora eu tinha que encontrar um casal bacana pra conversar...

quem?! quem?! quem?!

aí vieram os anjos sem asas número 2... um casal abençoado, que foi fundamental para o processo definitivo de aceitação do Artur...

mas vamos com calma... ainda há coisas a serem contadas...

até esse momento eu já tinha tido crise de enxaqueca, dermatite atópica e gastrite...

o pior inimigo de toda nossa história é a minha ansiedade... e ela estava a mil!

terça-feira, 15 de março de 2016

...porque todo processo é cheio de altos e baixos...

Tá... beleza... juntei todos os documentos...

agora tinha que preencher um papel com um mini perfil da criança a ser adotada...

queria preencher junto com o Artur... ele queria ver jogo... eu queria acabar logo com isso... ele queria ver beber cerveja... eu morrendo de vontade de preencher tudo... ele indo jogar bola... ele estava cansado... com calor... sei lá o quê mais...

- Amor!!!!
- Quê?!?!
- Você mudou de idéia!?
- Não, Amor... só tô com uma coceira no meu dedão esquerdo (a décima quinta desculpa esfarrapada)
- Mas não tem jeito... temos que preencher... vamos agora... rapidinho...
- Tá bem...

Ficamos umas 2 horas conversando sobre o perfil... no fundo, no fundo Artur queria "qualquer" criança... preta ou branca, pequena ou maiorzinha... eu também!!! esses critérios estéticos não representam nada pra mim...! mas o que ele não sabia é que tínhamos que decidir sobre outros fatos também... se poderia ser doente, saudável, vitimizada, etc e tal... aí ele viu que não era só chegar lá e "pegar" uma criança... na verdade, acho que foi a primeira vez que ele parou pra pensar sobre certas situações... optar por adotar uma criança com deficiência ou com um histórico de abuso sexual... enfim... há inúmeras situações... e não serei hipócrita de dizer que somos tão abnegados assim... não somos... eu tinha meus receios... e ele passou a tê-los também...

optamos por um perfil assim...: até 3 anos, qualquer sexo, qualquer raça/etnia, podendo ter doenças tratáveis...
não é o perfil mais abrangente do mundo... mas acho que ficou bom... e até agora não o mudamos...

masssssss... com tudo isso... as desculpas esfarrapadas, a tensão ao preencher o papel... sei lá... senti Artur distante... morria de medo dele ter desistido da idéia e estar se obrigando a adotar pra me fazer feliz...

mas ao mesmo tempo, no maior egoísmo do mundo (mea culpa), eu não queria pensar muito nisso... senão eu não levaria adiante... e eu queria MUITO levar adiante...

no dia seguinte, uma semana após pegar os papeis (e passar o vexame com o Joranlista), lá estava eu no Fórum com meu envelopinho cheio...

- Mas já!? - disse a assistente social
- Num te falei que já penso nisso há anos!?
- :)

documentos entregues... eu estava feliz que nem um pinto no lixo...

mas a pulga atrás da orelha em relação ao Artur não me deixava dormir...

ohhhh, Senhor!!!

segunda-feira, 14 de março de 2016

...porque burocracia é uma m...

Eu não pensei três vezes quando o Artur disse que sim...

fui ao fórum já atrás de tudo o que precisava fazer...

aí cabe até uma história tragi-cômica...
assim que eu cheguei no Fórum da minha cidade, encostei no balcão e aguardava a minha vez... aí escuto uma voz... era ele... a voz dele é inigualável... o jornalista mais famoso da cidade... ali, justo naquela hora... suei frio...

- Doutora Érica! Tudo bem!?
- Oie! Tudo e você?!
- Calor, né?!
- Ô, nem se fala...

- Pois não, Senhora, em que posso ajudar!?
(e ele do meu lado!)
- Eu queria saber sobre os documentos para adoção...
- Desculpe, senhora, não ouvi...
- Eu queria saber sobre os documentos para adoção...
(ele não saía do meu lado!!!!!!!)
- Senhora, desculpa, mas ainda não ouvi...
- Eu queria saber sobre os documentos para adoção...
- Ahhhh, sim... vou buscar... 

nesse momento eu estava roxa, azul, verde florescente com bolinhas amarelas... 

- Vai adotar, querida?!?!?!
- Errrrrrr, não... é pruns amigos meus... 

(não consegui pensar em NADA melhor)
- Ah tá...

cataploft!!!! caí dura e preta nessa hora...

- Senhora, aqui estão...
- Ahhh, muito obrigada... tchau... tchau Jornalista!
- Tchau!

.
.
.

provavelmente ele nem se lembra disso... mas eu me lembro... e saí do Fórum chorando de raiva... puta merda... tanta gente pra aparecer... tanta hora pra ele aparecer...
ninguém da minha família sabe ainda... não posso deixar ele desconfiar... mas que desculpa mais nojenta de esfarrapada... "amigos meus?!"... pelo amor de Deus, Érica...

que merda... que merda... que merda...

entrei no carro e respirei fundo...
limpei as lágrimas e peguei o papel...

uma lista com uns 10 documentos que eu tinha que providenciar... pronto... acalma coração... sua meta agora é essa... documentos, comprovante de residência, comprovante de nada consta, atestado médico...

atestado médico!??!?! ATESTADO MÉDICO!??!?!?!
mas se NINGUÉM sabe que eu vou adotar... e se eu sou médica... e se todos os médicos da cidade me conhecem... como vou conseguir um atestado médico...?!?!?!?!?!

que merda... que merda... que merda... 

domingo, 13 de março de 2016

...porque todo caminho é longo, mas nem por isso menos florido...

Minhas sessões com a psicóloga foram traumáticas...

eu pensei em desistir TODA semana...

minha psicóloga me levava ao limite... saía de lá exausta... chorava a semana inteira... e quando estava me recuperando, chegava a próxima sessão e lá vinha porrada...

é sério...

foi tenso...

tão tenso que Artur um dia me perguntou:

- Amor... quê que tá acontecendo!?
- Ai, Amor... eu já entendo onde tá meu medo de engravidar... eu entendo que tudo isso é um auto-boicote gigante e que as cicatrizes que tenho em mim me impedem de muita coisa.... eu sei, juro... sei até o que tenho que fazer pra começar a mudar isso... mas tá me doendo demais, Amor... sério... eu sinto que lá no final de tudo isso eu já vou tá zero bala e pronta pra engravidar... mas sabe lá Deus quando isso vai acontecer... do jeito que eu tô estragada eu acho que vai demorar 3 vidas... e eu não quero um filho daqui a 3 vidas... eu quero um filho agora... mas você quer o biológico primeiro... e eu não sei o que fazer... e eu odeio não saber o que fazer... e tô cansada...
- Tá bem...
- Tá bem o quê, Amor?!
- Vamos adotar então!
- Quê?!?!?!?!?!?!?!?!?!
- Amor, NADA nessa vida precisa ser tão doído assim... eu não quero um filho que vai te trazer infelicidade... e, pensando bem, depois de tudo que tenho visto e lido, um filho adotivo não tem diferença de um filho biológico... então bora lá fazer isso...
- Eu não quero de forma alguma que você faça isso por pressão minha, Amor... adotar é uma coisa muito séria pra se fazer sem ter certeza...
- Eu tenho certeza...
- Jura?!
- Juro!
- ...
- Amor... porque você tá chorando?!
- Porque um dia, quando nosso filho chegar, ele vai saber que o que motivou a vinda dele foi a coisa mais maravilhosa desse mundo: AMOR... por AMOR o pai dele acatou meu sonho... e eu acho que isso é lindo demais pra não se emocionar...
- Você é boba, Amor...
- Eu sei...

sábado, 12 de março de 2016

...porque todo começo é difícil...

Não tem jeito... você casa, muda de cidade, constrói sua casa, compra um cachorro, faz uma horta, viaja pro Nordeste, vive feliz para sempre... aí bate aquela dúvida: e se eu tiver filhos?!

veja bem... nem era tanto pela pressão da família... não que ela não existisse (aja pergunta nos encontros de final de ano!!!)... mas eu sempre lidei muito bem com tudo... sei o que eu quero e não via nada de constrangedor em responder um "não, não vou engravidar logo" pro parente mais chatinho...

a questão era mais profunda... eu QUERIA um filho...

relógio biológico... tédio pela mesmice... inquietude pela proximidade dos 30anos... chame do quiser...

a questão é que eu queria um filho... mas não queria engravidar...

por que, né?! pra quê deixar as coisas fáceis se eu posso complicá-las?!

:/ :/ :/

um belo dia, depois da trezentas e vinte e três indiretas pro meu marido amado que não entendeu nenhuma sequer, eu o chamei e disse séria:

- Amor, eu quero um bebê!
- Uai, só parar de tomar o remédio rosinha (meu anticoncepcional hahahaha!)
- Mas amor, eu não quero engravidar... eu acho que quero adotar...
- Ahhhhh amor, adotar antes de ter o "nosso" (um filho biológico) eu não quero não... ou a gente tem um biológico e depois adota ou a gente fico só com o Jota (nosso cachorro)...
- Então deixa pra lá...


mas eu não deixei pra lá... obviamente...
quem me conhece sabe que eu sou NEURÓTICA... se eu coloco uma idéia na cabeça ela não sai nem que a vaca tussa... e eu queria um filho... queria queria queria...

foram MESES de conversa com Artur... comprei livros, mostrei textos de blogs, filmes, séries, diferentes abordagens... NADA fazia ele mudar de idéia... primeiro teria que ser o biológico e depois partiríamos pra adoção...

então eu cansei... cedi... não ia ter jeito... eu teria que engravidar... mas era um PÂNICO tão grande que eu não sabia como faria isso...

então procurei uma psicóloga... no primeiro dia cheguei lá e disse...
- Eu quero ter filhos mas não quero engravidar... como faz?!

e eu e ela temos feito... muito!


sábado, 16 de janeiro de 2016

... porque preciso falar sobre o Artur...

Já estávamos juntos há 3 anos e eu sempre adiando "a conversa"... ficamos noivos no reveillon de 2010/2011... e nada de ter "a conversa"... marcamos a data do casamento... de repente faltavam 2 meses pro casamento... aí não tinha jeito... eu não podia me casar com ele sem ter "a conversa"...

-Amor, precisamos conversar...
-Que foi?!
-Preciso te contar uma coisa antes de nos casarmos porque pode ser que você não queira mais casar comigo...
-Puta merda, Érica... o quê que foi!?!?
-Sabe... não é nada grave... mas eu sei que ter filho é uma coisa importante pra você... e eu não sei se vou querer tê-los...
-Ahhhhh... pára de show... isso aí você fala agora... daqui uns 2 ou 3 anos você vai querer ter sim, com certeza...
-Não, Artur... é sério... é sério mesmo... eu já pensei muito sobre isso e eu realmente não vejo engravidando... pode até ser que eu queira adotar... mas nem isso tá bem definido... sei lá... pode ser que eu não tenha filho de forma alguma...
-Sério?!
-Sério...
-Silêncio...
-Silêncio...
-Então deixa eu pensar um cadinho aqui sobre isso...
-Tá bem...

foi a semana mais longa da minha vida... passamos o relacionamento inteiro namorando a distância e nessa época só nos víamos nos finais de semana... NUNCA uma semana passou tão devagar...

no sábado seguinte, chegando em Minas...
 -E aí!? Temos um veredicto?!
-Olha... eu quero muito ter filhos... mas eu quero mais ficar com você... então bora lá casar logo que eu tô doido pra passar o resto da vida com você...

você entende porque eu amo esse menino!?!

:) :) :)

quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

... porque primeiro preciso me apresentar...

escrever sempre foi uma paixão... nas fases mais difíceis da minha vida (mudança de cidade, pré-vestibular, faculdade...) mantive um blog e sempre me ajudou muito colocar o turbilhão de sentimentos em forma de palavras...

então, vamos lá, né?! fase de vida nova, turbilhões novos, blog novo...

oi... meu nome é Érica...

por muito tempo eu achava que não teria filhos... achava que minha vida ia tomar outros rumos... que eu ia ser sozinha, independente e "alternativa" demais... e nesse contexto não cabiam filhos...
é... adolescenta é foda... a gente acha que tem tudo resolvidinho, que os planos / pessoas / situações são imutáveis e que a vida é uma linha reta de acontecimentos...

ai, ai... quem dera...

o que realmente aconteceu foi um pouco mais turbulento...

saí do interior de Minas Gerais e fui pro Rio de Janeiro, onde eu finalmente passei pra Medicina... mas aí descobri que não é tão fácil assim salvar a humanidade... após alguns estágios em ONGs e até um mês de treinamento no Equador, eu vi que ser uma Médica Sem Fronteiras era mais complicado do que eu supunha, envolvia mais burocracia que eu supunha e definitivamente não era o sonho que eu supunha...

eu meio a isso eu conheci um cara que realmente queria ficar comigo, casar comigo... e eu que achava esse tempo todo que ninguém ia querer casar com uma pessoa tão estranha como eu...

aí comecei a fazer análise e entendi que o que eu queria MESMO era voltar pro interior... que esse lance todo de cidade grande já não combinava com os planos de vida novos... e que eu tinha mudado de idéia mesmo e ninguém tinha nada a ver com isso...

o que não mudava era a questão "filho"...

veja bem... eu sou pediatra... não é que eu odeie crianças... pelo contrário... eu as adoro... por mim estava sempre rodeada por elas... mas gerar um filho era uma idéia complicada pra mim... eu não tenho essa necessidade de GERAR... pra mim, filho é filho, não importa de onde tenha vindo... somado a isso começou a surgir um pânico de que ia dar tudo errado, que eu ia ter todas aquelas complicações que vivencio no meu dia-a-dia como médica, que eu ia morrer ou ter um filho com algum problema que também ia morrer...
ou seja, na minha cabeça todo mundo ia morrer... uma tragédia digna de novela mexicana...

aí começou a idéia da adoção...

e é sobre isso que vou escrever nesse blog...

tenho 29 anos e estou junto com o Artur (que tem 33) há 7 anos (2 desses casados)... ainda não estamos oficialmente na fila de adoção, mas os trâmites já estão correndo e espero em breve já ser cadastrada...

2016 tem tudo pra ser um ano muito bom...então bora lá!

;)